quarta-feira, 27 de maio de 2009

Ousadia premiada

Por Marcelo de Bona Dias


Era uma quarta feira, o relógio marcava 21 horas, meus colegas começavam a apresentar os seus trabalhos da disciplina de técnica de entrevista. Eu esperava ansioso pela minha vez, enquanto ouvia no meu rádio o narrador dizer:

- Disparou e nasceu, é gooooool do Criciúma. Quando eram jogados cinco minutos da etapa final, agora Criciúma dois, Tupi zero.

Era dia de jogo decisivo para o Criciúma Esporte Clube, dia de ir ao Heriberto Hülse torcer pelo Tigrão, que necessitava vencer por 3x0. Só que para mim hoje era dia de aula, na faculdade de jornalismo, então teria de me contentar em ouvir pelo rádio mesmo, estava tão convicto da ideia que cheguei a fornecer a minha carteira de sócio a um amigo, visto que eu não iria utilizá-la.

Porém, uma luz se acende no fim do túnel e meus planos começam a mudar quando a professora declara:

– Após apresentarem suas matérias vocês estarão liberados.

Aquela frase soou como música nos meus ouvidos, e música de qualidade. Porém, agora eu tinha um problema a resolver: como entrar no estádio sem a carteira de sócio? A resposta mais simples seria pagar pelo ingresso, não é?

Mas, pagar R$ 30,00, para ver apenas o final da partida, por mais que ela estivesse emocionante não estava nos meus planos. Como resolver esta equação? O melhor a fazer seria apresentar o trabalho e deixar para pensar nisso a caminho do estádio, e foi o que eu fiz.

Apresentei o bendito trabalho da forma mais sucinta possível e disparei em direção ao estádio, agora o som do rádio já não necessitava ser ouvido de forma discreta através do fone de ouvido, agora eu o ouvia no último volume através do rádio do carro.

Estacionei a uns 500 metros do estádio e corri em sua direção, agora restava apenas, e tão-somente, achar uma forma de adentrá-lo. Pensei em contar uma história triste aos porteiros, quem sabe algum conhecido no portão de acesso dos policiais. Mas para minha surpresa os portões estavam fechados como uma prisão, e sem ninguém por perto para eu tentar persuadir.

Eis que surge uma nova esperança, ali logo ao lado do portão de acesso da Policia Militar está a porta de acesso à imprensa. E aí eu pensei, não custa nada tentar, me aproximei da porta que estava escancarada e ninguém por perto, resolvi ousar e entrar. Entrei e nenhuma mísera alma, comecei a subir os degraus que levavam às cabines de imprensa, o som que era emitido pela multidão de torcedores agora já não necessitava de rádio para ser ouvido.

Cheguei no hall de entrada, onde em cima de uma mesa estavam várias credencias à disposição dos profissionais que iriam cobrir a partida, mas para mim mais parecia um oásis, ali estava a solução para o meu problema. Não titubeie, apenas tomei o cuidado de escolher entre as credenciais disponíveis a que pertencia a um veiculo de comunicação que não fosse tão conhecido na cidade. E pronto, estufei o peito e coloquei a credencial.

Agora era só me acomodar em uma das cabines, escolhi uma das que estavam vagas, para acompanhar os 25 minutos que faltavam para o encerramento da partida. O placar eletrônico assinalava 2x0 para o Tigre, que permanecia pressionando o adversário. E assim prosseguiu, pelo restante da partida, até que aos 42 minutos minha ousadia foi premiada pelo terceiro gol tricolor, que classificou o Criciúma para a próxima fase da Copa do Brasil. Voltei para casa com a sensação de missão cumprida, e com a credencial no bolso como recordação!

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