quinta-feira, 21 de maio de 2009

Alguns porcos mortos e a epidemia do medo

Por Ana Claudia Budny Gomes

Minhas últimas manhãs desocupadas, que vieram a se tornar manhãs de sono profundo, resultaram em muitas noites mal dormidas e madrugadas de olhos abertos. Outra consequência de algumas noites mal dormidas, e talvez a mais interessante delas além do fato de ter tido tempo para atualizar minha leitura, foram sonhos um tanto peculiares que tive. Entendo que todos devem pensar que para me ver livre dos sonhos a solução seria ocupar meu tempo ocioso, ainda assim acredito que eles têm sido interessantes e me levam a fazer diversas suposições sobre o comportamento humano. Confesso que talvez minha ociosidade colabore para tornar tudo tão mais interessante na minha visão, mas ainda assim pretendo continuar com os sonhos por enquanto.

Um dos sonhos que considerei mais peculiar, para não dizer bizarro, aconteceu na última madrugada. Lá estava eu em algum lugar do qual não me recordo bem, uma espécie de fazenda que de qualquer forma não é muito relevante, e minha função era a de matar porcos. Eu e mais uma dupla de pessoas encaminhávamos os porcos para um local fechado e lá nós os matávamos um a um – o fato de apreciar o gênero literário de terror antes de dormir talvez tenha colaborado para a presente violência nesses sonhos – sem dó nem piedade.

Acordei pensando que talvez estivesse na hora de procurar uma melhor interpretação para esse tipo de sonho, e logo me recordei de algo que havia escutado no rádio no dia anterior. “As pessoas estão com medo de comer carne de porco”, é claro que a declaração se fundamentava na atual gripe suína, já em fase cinco (de uma máxima de seis) e que vem sendo assunto principal da mídia nos últimos dias. Foi então que entendi o motivo pelo qual tive esse sonho e percebi o que meu subconsciente vinha interpretando da atual epidemia.

Notei que algo que considerava um tanto injustificável, temer carne de porco quando na realidade pouco se tem haver com os atuais riscos da epidemia se espalhar, era interpretado um pouco diferente pelo meu subconsciente. Foi nesse momento que passei a entender o que pode se passar na cabeça das pessoas em um caso como esse, não só naquelas menos instruídas que tendem a criar maior caso nessas situações, mas também em pessoas cultas e de conhecimento. O medo confunde nosso cérebro.

Culpa dele talvez tomarmos decisões precipitadas e muitas vezes cometermos inúmeros erros. Não é só a ignorância, como muitos pensam, que gera atitudes impensadas, mas também o incontrolável, como muitas situações já nos mostraram ao longo dos anos. Gostamos de pensar de temos o poder de controlar o que acontece ao nosso redor e com nossas vidas e quando alguma situação gera nem que seja uma pequena falta de confiança em nosso controle, vem como resultado o pânico. Talvez a maior epidemia do momento não seja a gripe suína e sim a epidemia do medo.

Meu ócio por vez retrata como deveríamos lidar com a situação, vivermos com controle e mente aberta, e deixarmos a loucura e o medo para nossos sonhos.

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