quinta-feira, 28 de maio de 2009

Cancelando a paciência

Por Paula Darós Darolt

Um dia recebi minha conta telefônica e percebi que havia algumas taxas sendo cobradas a mais. Logo, recorri ao atendimento do consumidor da conta telefônica, aí então começou o pesadelo:
- Um momento senhora, estaremos lhe passando a um responsável.
Respirei fundo algumas vezes, e pensei comigo:
- Não! Justo hoje que estou sem paciência.
– Rafael, boa tarde!
Expliquei meu problema ao humilde rapaz que com toda prestatividade me disse aquela frase que eu não queria ouvir:
-Um momento senhora, estarei lhe repassando ao gerente.
Como assim? Gerente? Se ele era responsável pelo assunto, deveria resolver o meu problema. Mas tudo bem, até agora foram dois, suportável para alguém que tem 15 minutos para resolver o problema. Dois minutos depois de ficar escutando aquela agradável canção, surge aquela voz enjoada de atendente de telemarketing ao pé do meu ouvido:
-Suzana, boa tarde!
Expliquei novamente a situação e pela primeira vez reclamei da ineficiência do atendimento, então a ilustre funcionaria faz a seguinte proposta:
- Senhora, tecle 2 para falar com outro atendente ou tecle 3 para reclamações.
Até aí já haviam se passados longos 10 minutos preciosos do meu tempo, e mais ou menos pelas minhas contas, uns cinco atendentes. Depois de eu já estar enjoada de escutar a sinfonia de Beethoven, outra voz agradável me soa:
- Fernando, boa tarde!
Cansada de toda a palhaçada e com o horário do trabalho estourando, é minha vez:
- Senhor Fernando, você teria um momento? Só vou pegar o número do meu CPF. Liguei o rádio em uma musica clássica do Latino e fui trabalhar.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Ousadia premiada

Por Marcelo de Bona Dias


Era uma quarta feira, o relógio marcava 21 horas, meus colegas começavam a apresentar os seus trabalhos da disciplina de técnica de entrevista. Eu esperava ansioso pela minha vez, enquanto ouvia no meu rádio o narrador dizer:

- Disparou e nasceu, é gooooool do Criciúma. Quando eram jogados cinco minutos da etapa final, agora Criciúma dois, Tupi zero.

Era dia de jogo decisivo para o Criciúma Esporte Clube, dia de ir ao Heriberto Hülse torcer pelo Tigrão, que necessitava vencer por 3x0. Só que para mim hoje era dia de aula, na faculdade de jornalismo, então teria de me contentar em ouvir pelo rádio mesmo, estava tão convicto da ideia que cheguei a fornecer a minha carteira de sócio a um amigo, visto que eu não iria utilizá-la.

Porém, uma luz se acende no fim do túnel e meus planos começam a mudar quando a professora declara:

– Após apresentarem suas matérias vocês estarão liberados.

Aquela frase soou como música nos meus ouvidos, e música de qualidade. Porém, agora eu tinha um problema a resolver: como entrar no estádio sem a carteira de sócio? A resposta mais simples seria pagar pelo ingresso, não é?

Mas, pagar R$ 30,00, para ver apenas o final da partida, por mais que ela estivesse emocionante não estava nos meus planos. Como resolver esta equação? O melhor a fazer seria apresentar o trabalho e deixar para pensar nisso a caminho do estádio, e foi o que eu fiz.

Apresentei o bendito trabalho da forma mais sucinta possível e disparei em direção ao estádio, agora o som do rádio já não necessitava ser ouvido de forma discreta através do fone de ouvido, agora eu o ouvia no último volume através do rádio do carro.

Estacionei a uns 500 metros do estádio e corri em sua direção, agora restava apenas, e tão-somente, achar uma forma de adentrá-lo. Pensei em contar uma história triste aos porteiros, quem sabe algum conhecido no portão de acesso dos policiais. Mas para minha surpresa os portões estavam fechados como uma prisão, e sem ninguém por perto para eu tentar persuadir.

Eis que surge uma nova esperança, ali logo ao lado do portão de acesso da Policia Militar está a porta de acesso à imprensa. E aí eu pensei, não custa nada tentar, me aproximei da porta que estava escancarada e ninguém por perto, resolvi ousar e entrar. Entrei e nenhuma mísera alma, comecei a subir os degraus que levavam às cabines de imprensa, o som que era emitido pela multidão de torcedores agora já não necessitava de rádio para ser ouvido.

Cheguei no hall de entrada, onde em cima de uma mesa estavam várias credencias à disposição dos profissionais que iriam cobrir a partida, mas para mim mais parecia um oásis, ali estava a solução para o meu problema. Não titubeie, apenas tomei o cuidado de escolher entre as credenciais disponíveis a que pertencia a um veiculo de comunicação que não fosse tão conhecido na cidade. E pronto, estufei o peito e coloquei a credencial.

Agora era só me acomodar em uma das cabines, escolhi uma das que estavam vagas, para acompanhar os 25 minutos que faltavam para o encerramento da partida. O placar eletrônico assinalava 2x0 para o Tigre, que permanecia pressionando o adversário. E assim prosseguiu, pelo restante da partida, até que aos 42 minutos minha ousadia foi premiada pelo terceiro gol tricolor, que classificou o Criciúma para a próxima fase da Copa do Brasil. Voltei para casa com a sensação de missão cumprida, e com a credencial no bolso como recordação!

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Alguns porcos mortos e a epidemia do medo

Por Ana Claudia Budny Gomes

Minhas últimas manhãs desocupadas, que vieram a se tornar manhãs de sono profundo, resultaram em muitas noites mal dormidas e madrugadas de olhos abertos. Outra consequência de algumas noites mal dormidas, e talvez a mais interessante delas além do fato de ter tido tempo para atualizar minha leitura, foram sonhos um tanto peculiares que tive. Entendo que todos devem pensar que para me ver livre dos sonhos a solução seria ocupar meu tempo ocioso, ainda assim acredito que eles têm sido interessantes e me levam a fazer diversas suposições sobre o comportamento humano. Confesso que talvez minha ociosidade colabore para tornar tudo tão mais interessante na minha visão, mas ainda assim pretendo continuar com os sonhos por enquanto.

Um dos sonhos que considerei mais peculiar, para não dizer bizarro, aconteceu na última madrugada. Lá estava eu em algum lugar do qual não me recordo bem, uma espécie de fazenda que de qualquer forma não é muito relevante, e minha função era a de matar porcos. Eu e mais uma dupla de pessoas encaminhávamos os porcos para um local fechado e lá nós os matávamos um a um – o fato de apreciar o gênero literário de terror antes de dormir talvez tenha colaborado para a presente violência nesses sonhos – sem dó nem piedade.

Acordei pensando que talvez estivesse na hora de procurar uma melhor interpretação para esse tipo de sonho, e logo me recordei de algo que havia escutado no rádio no dia anterior. “As pessoas estão com medo de comer carne de porco”, é claro que a declaração se fundamentava na atual gripe suína, já em fase cinco (de uma máxima de seis) e que vem sendo assunto principal da mídia nos últimos dias. Foi então que entendi o motivo pelo qual tive esse sonho e percebi o que meu subconsciente vinha interpretando da atual epidemia.

Notei que algo que considerava um tanto injustificável, temer carne de porco quando na realidade pouco se tem haver com os atuais riscos da epidemia se espalhar, era interpretado um pouco diferente pelo meu subconsciente. Foi nesse momento que passei a entender o que pode se passar na cabeça das pessoas em um caso como esse, não só naquelas menos instruídas que tendem a criar maior caso nessas situações, mas também em pessoas cultas e de conhecimento. O medo confunde nosso cérebro.

Culpa dele talvez tomarmos decisões precipitadas e muitas vezes cometermos inúmeros erros. Não é só a ignorância, como muitos pensam, que gera atitudes impensadas, mas também o incontrolável, como muitas situações já nos mostraram ao longo dos anos. Gostamos de pensar de temos o poder de controlar o que acontece ao nosso redor e com nossas vidas e quando alguma situação gera nem que seja uma pequena falta de confiança em nosso controle, vem como resultado o pânico. Talvez a maior epidemia do momento não seja a gripe suína e sim a epidemia do medo.

Meu ócio por vez retrata como deveríamos lidar com a situação, vivermos com controle e mente aberta, e deixarmos a loucura e o medo para nossos sonhos.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Torcedores de corpo, alma e coração

Por Monise Topanotti

Embora exista rivalidade em praticamente tudo hoje em dia, a que mais me agrada é a existente no futebol. É só nela que vimos as torcidas dando o próprio sangue, se envolvendo em cada lance, emocionando-se com cada gol, vibrando, gritando, chorando e amando um time de futebol.

De todos os clássicos da bola por esse Brasil afora, nenhum tem a mesma força e emoção que um Grenal, é só nele que os dois maiores times do Rio Grande do Sul, o Grêmio e o Internacional, ambos de Porto Alegre, entram em campo e com eles entra junto o coração de uma nação. Uma nação apaixonada por futebol, que é regada a alegrias, conquistas e glórias.

O Grenal, que divide praticamente ao meio o estado Gaúcho, tem o Inter como campeão no numero de vitórias em clássicos, são 129, contra 109 do rival tricolor.

O Grêmio vem tropeçando nos últimos tempos, deixando sua fervorosa torcida sem títulos há no mínimo dois anos. Já o Internacional chamado de campeão de tudo, por ter vencido nos últimos anos todos os campeonatos e copas que disputou, vem orgulhando os gaúchos e também os brasileiros, além de ser uma fábrica de craques para os times estrangeiros.

De todos os craques oriundos do futebol gaúcho, dois já são lendas mundiais. Ronaldinho Gaúcho, que é gremista assumido, foi revelado pelo tricolor e ainda hoje se diz apaixonado pelo time. E Alexandre Pato, descoberta e promessa do Internacional e que hoje brilha na Seleção Brasileira e num dos maiores times do mundo, o Milan.

Como gremista assumida que sou, preciso confessar que o Internacional tem mais time, mais estrelas e mais títulos e sabe crescer no momento certo de uma competição, mas o Grêmio, que se encontra tecnicamente mais fraco, é conhecido pela sua força e garra, e nós torcedores temos uma Libertadores da América pela frente. Sobre as palavras do vice-presidente gremista, André Krieger, em entrevista no último dia 15, “O Grêmio e a Libertadores foram feitos um para o outro”. E eu, assino embaixo.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Devaneios de um jornalista

Por Leonardo Daleffe

Para um jornalista uma boa pauta, ou um bom assunto, ou um fato extraordinário – ou qualquer denominação e orientação que use para definir uma matéria - nem sempre está à disposição de todos. Acredite, para muitos uma boa pauta é um acontecimento raro, coisa de uma vez na vida. Como um casamento - embora existam pessoas que se casem algumas vezes –, bom, a vida é injusta, uns têm mais sorte que outros, mas enfim não é algo que acontece todos os dias. 

Mesmo sem uma boa pauta é preciso manter o nível de qualidade e credibilidade. Certa vez me disseram que um jornalista é como um atleta, ele tem um auge e é impossível manter este auge para sempre, mas é crucial manter seu nível constantemente alto. 

Quando se diz que está sem pauta ou simplesmente não tem nada para escrever existe uma grande probabilidade de um ser provido de inteligência superior, capacidade de improvisação acima da média e senso de humor altamente aguçado beirando o divino expelir uma frase como: “Sem pauta! Vou ter que criar uma, acho que vou matar alguém! Ha ha!”. 

Comentários à parte, dizer isto é ser como certas pessoas que querem ter empresas por motivos fúteis como dono de uma operadora de celular para ter créditos e mensagens gratuitas para sempre. Parabéns, suas amigas irão à loucura com isso, mas com essa mentalidade em menos de um ano tu já estarás contratando os serviços da concorrência, que por sinal não terá falido.

Quer ser dono de empresa? Um grande empresário? Ótimo espírito empreendedor tu já possuis, mas um pensamento tão pequeno assim? Isto é coisa de gente sem visão, e visão é tudo - no sentido figurado é claro existem muitos cegos com visão, ou nem tantos assim -. Voltando ao assunto, por que é estúpido dizer que vai matar alguém? É errado e pessoas boas não matam? Não, nada de falso moralismo, simplesmente porque é amador. Estudou jornalismo para quê? Morte pode ser manchete, matéria de capa, tudo bem, mas é muito direta, fulano é esfaqueado em frente à igreja em plena luz do dia. Bonito, mas muito simples, uma solução? Não mate, deixe bem debilitado, de preferência à beira da morte no hospital, aí sim tu tens uma boa pauta, algo pra ficares regurgitando por um bom tempo até o desfecho final. 

Pense bem, suponha que a vítima está no hospital após ser alvejada por um cidadão portando um revolver calibre 38. Várias notas ou chamadas podem ser escritas relatando a situação da pessoa – de preferência mulher, jovem, bonita e de classe média alta – no hospital. Mostre o drama da família acompanhando o caso da filha. Faça uma matéria mostrando o aumento da violência relacionada a armas de fogo nos últimos anos, do porte de armas para civis, mostre o descaso das autoridades que permitiram uma pessoa ser baleada à luz do dia. Depois de uma serie de reportagens feitas com este gancho o quadro da garota pode melhorar no hospital dando esperança para a população, depois finalmente ela morre e pronto. 

Mas nem tudo está acabado, finalize colocando a culpa na saúde pública e consequentemente no governo pela péssima administração da verba pública que culminou na morte de uma garota inocente que tinha uma bela vida pela frente. 

Impressionado com tudo que foi relatado leve a ideia ao editor-chefe que estupefato dirá que tudo é brilhante e o veículo venderá como nunca, mas ele tem uma nova pauta e quer que você, o jornalista mais brilhante da redação, cubra. Por fim depois de tantos devaneios e especulações você acaba cobrindo um jantar beneficente que contará com a ilustre presença dos anunciantes e do dono do veiculo, além é claro da presença de celebridades locais e do prefeito numa noite de gala e prestígio.

Confusão

Por Patrícia Rodrigues

Todo mundo na vida já se meteu alguma vez em confusões. Desde o começo da vida já nascemos rodeados delas. Imagine milhões de espermatozóides desesperados e ansiosos, correndo atrás de um pobre coitado óvulo tentando uma chance de ser conhecido fora do território sombrio e misterioso que atualmente residem. Deve ser um tremendo alvoroço, aquela galera toda se debatendo, dando de cabeça, alguém tem que conseguir. E quando finalmente se rompe a barrreira, a vitória está conquistada.

Vitória? Palavra desconhecida. A partir desta etapa é que a tortura começa. Como alguém consegue sobreviver, trancado num ambiente úmido, apertado, por nove longos meses. E quando se acostuma com a idéia, e hora de abandonar e vir para esse mundo cruel.Mas existem pessoas que nascem para se meter em confusões. Uma amiga minha é mestra. Certo dia, ela me ligou eufórica, dizendo que recebeu uma proposta irrecusável.

- Amiga, o Leandro (o atual namorado dela), me convidou para morar no seu apartamento. Não é maravilhoso?

Bom, fiquei curiosa. O Léo, como era chamado, parecia um ser irreal, era carinhoso, presente, compreensivo, um príncipe encantado. O único problema é que eles estavam juntos há apenas dois meses e ele tinha se separado há apenas quatro. Mas para satisfazer minha amiga falei:

- Que ótimo! Vai em frente Paulinha, mas cuidado hein.

Não deu outra, duas semanas ela me ligou novamente, mas não estava sorrindo agora, estava desesperada. A finalidade do seu namorado era apenas ter uma companhia fixa, todos os dias. Mas agora ele estava enjoado, já cansou da mesma pessoa e, além disso, decidiu voltar para sua ex esposa.

Namoros, família, religião, amigos trabalho. São tantos os problemas a serem resolvidos, que precisariam de duas vidas para ser dissolvidos. Paciência. A melhor coisa a fazer é ir vivendo a vida, com todas as atribulações e confusões do que apenas sobreviver, e passar deixando suas marcas pelo mundo, mesmo que estas sejam as mais confusas.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Nada a declarar

Por Lucas Colombo

Ao entrarmos em nossa sala de aula a professora disparou:-Escrevam uma crônica e me entreguem no final da aula.Como era de se esperar ficamos apreensivos, no meu caso, por não saber o que falar. Pensei, escrevi, apaguei, escrevi novamente, e nada. Passaram-se as horas, os minutos e a hora de partir estava se aproximando. De repente, como a última alternativa, ou a última mulher do baile, pulou em meu colo uma ideia: “Vou falar sobre a falta do que falar”, ou melhor, sobre a falta de assunto que nos assola. Falo aqui de ASSUNTO, não da mulher, ou homem, com o qual você saiu no final de semana, nem do que fez, ou vai fazer, falo aqui de filosofia, traduzindo: questionamentos que realmente façam efeito e nos obriguem a usar a mente.

Discutir parece uma palavra abominável, pois sempre está relacionada aquele famoso clichê: “ Amor, acho que precisamos discutir nossa relação”. Mas não é só relação que pode se discutir. Encontro muitas pessoas durante meu dia e nada passa de um singelo olá, ou de um como vai. Tudo bem, todos temos nossos compromissos. Mas mesmo quando sento para conversar com alguém, nenhum de nós rompe a barreira do EU. Eu fiz. Eu vou fazer. Eu vi. Eu ouvi. “EU, EU, EU”. Não temos mais o que falar, ou simplesmente não queremos conversar, para não pensarmos?

Pensar, outra palavra monstro de nossa existência. Creio que a palavra mais apreciada dos nossos tempos seja mesmo a diversão. Bom, vou me concentrar, prometo, deixo isso para outra crônica. O fato é que, salvo alguns, ninguém se propõe a um embate sobre política, por exemplo.

Ao ouvir esta palavra, política, muitos pensariam: “Que coisa chata”. Chata ou não, faz parte de nossa vida, melhor dizendo, determina nossa vida. Da política sai o conjunto de regras que vai nos reger e aquele “cara que me ajudou e eu votei nele” vai decidir questões muito sérias. Alguém aí sabe disso? Alguém chegou a alguma conclusão? Poucos. Talvez se debatêssemos mais e déssemos menos importância às futilidades da vida, ou as reclamações desta, nossa massa se tornaria um povo.