segunda-feira, 27 de abril de 2009

Uma crônica (nem tão) traumatizante

Por Renata Rocha Cardozo

A professora entra na sala e diz: “Façam uma crônica”. Simples e claro assim e com um sorriso no rosto - que você ainda não entendeu se o considera sarcástico ou não.

O seu corpo é tomado por uma dor de barriga incalculável e você começa a suar frio: “Como assim façam uma crônica? Isto está fora da realidade, é assunto para profissional.” Mas olhando ao seu redor, você se depara com todos os outros alunos escrevendo, com uma facilidade incrível, algo que não há nem como começar.

E é neste momento que você começa a suar frio e relembra de como era bom estudar na quarta série e fazer as redações simples de como foram as suas férias de verão. Mas antes de ser dominado por este pensamento você é despertado pelo lembrete da professora: “Vocês tem só até o final da aula para entregar, vamos ao trabalho”! E aquele sorriso anterior já está convertido em uma expressão um pouco mais séria – e talvez um pouco sarcástica.

Dominado pelo pânico, pela dor de barriga e pelo suor, nem um pensamento com nexo consegue formar a frase inicial de seu texto. Seu cérebro não parece fazer mais parte de seu corpo. É então que você olha novamente para o lado e seus colegas continuam a escrever sem parar, e então - em um pensamento desesperado - você decide que não deve ser tão complicado assim. Se até aquele “carinha” que sabe menos que sua avó está escrevendo, como você está parado ainda?

Seu primeiro pensamento formado é forjar um desmaio e pedir para entregar outro dia, mas isto está fora de cogitação, porque além de ‘não ser tão complicado assim’, você não mentiria desta forma para esta professora, afinal ela sempre foi tão boa com você...

E como tudo que está ruim pode sempre piorar, o pessoal começa a entregar seus materiais e seu relógio (para ajudar) mostra a tristeza de estar chegando ao final da aula com sua página ainda em branco. Você até pensa em comprar um de seus colegas dando vinte reais para fazer o trabalho, mas também está sem a carteira.

E então? Fim de carreira pra você? Claro que não! Surge a brilhante ideia de escrever sobre seu terrível pesadelo, o que o faz sentir aliviado por poder pelo menos estar escrevendo também.

Fazer uma crônica agora não parece tão ruim assim e aquele sorriso sarcástico da professora na verdade pode até ter sido fantasiado por você.

E é quando seus outros amigos perguntam como você está conseguindo fazer o trabalho e olhando os monitores percebe que o que tanto escreviam era bate-papo, no msn. A dor de barriga é transformada num alívio imediato quando as palavras começam a surgir em sua página e você nem se sente mais tão incapaz assim.

Quando finalmente a aula termina, seu texto está pronto e você felicíssimo por tê-lo concluído a tempo. Infelizmente, num surto, seu computador desliga sozinho! Mas graças à tecnologia, você nem se dá ao trabalho de fazer uma choradeira, já que foi inteligente o suficiente de ter passado para o pen drive. Então, fim da aula, crônica concluída, texto entregue. O pânico chegou ao fim e você está com um sorriso largo que quase não cabe no rosto. Só espera agora que a professora o avalie e dê uma nota boa para que não precise passar pelo pânico traumatizante novamente...

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